segunda-feira, 24 de setembro de 2012

As Produções Cinematográficas Italianas da Década de 60

Olá! Fiz uma seleção de 5 filmes que marcaram o cenário italiano na década de 60 para vocês. São eles "Rocco e Seus Irmãos" (1960), "Duas Mulheres" (1960), "O Leopardo" (1963), "Teorema" (1968) e "Os Deuses Malditos" (1969).


A história de uma família que sai do interior da Itália rumo à cidade grande em busca de trabalho e condições de subsistência, bem como os conflitos entre os parentes, é tema central de "Rocco e Seus Irmãos" (Rocco I Sui Fratteli). Uma produção do renomado cineasta Luchino Visconti, pertencente à chamada estética neo-realista, possui trilha sonora assinada por Nino Rota e o roteiro é baseado em episódio do romance Il Ponte Della Ghisolfa, de Giovanne Testori. Narra a história dos irmãos Parondi: Rocco, Ciro, Luca, Simone e Vicenzo, filhos da viúva Rosaria (a atriz grega Katina Paxinou), que mudam-se da Basilicata para Milão. Simone (Renato Salvatori) torna-se boxeador e envolve-se com a prostituta Nadia (Anne Girardot). A sua carreira, inicialmente promissora, vai decaindo constantemente. Rocco (Alain Delon) se envolve com Nadia, mas permanece sempre fiel às suas origens. O relacionamento dos dois irmãos com Nadia é motivo para grandes desentendimentos entre os irmãos. Rocco acaba presenciando uma cena em que Simone estupra Nadia na sua frente, sem que ele possa fazer nada. Logo em seguida os dois partem para a violência, atirando-se a socos em meio às ruas de Milão. Rocco acaba por abandonar Nadia, que não o perdoa por não ter agido enquanto podia. Ela casa-se com Simone, mesmo a contragosto. Ele começa uma carreira no boxe, atingindo o sucesso. Passado o tempo, Rocco retorna seu relacionamento com Nadia, enquanto Simone se atira à embriaguez e à vida mundana, voltando em seguida a tentar conquistar Nádia e a colocar seu irmão em problemáticas situações. De forma muito fria, Simone termina com a vida de Nadia, matando-a a golpes de canivete.






Esta produção é de extrema importância para a cinematografia. Até os dias de hoje, é reconhecida pela forma como trata o relacionamento entre irmãos, bem como pela clareza que ela traz a realidade e contexto em que insere-se. Sem dúvida um grandioso filme.


A história de uma mulher e sua filha, as duas fugindo dos horrores da Segunda Guerra Mundial, é retratada em "Duas Mulheres" (La Ciociara), uma produção francoitaliana de Vittorio de Sicca, baseada no romance homônimo de Alberto Moravia.

 
O filme conta a história de Cesira (Sophia Loren), uma mulher viúva, dona de uma loja em Roma, e Rosseta (Eleonora Brown), a filha adolescente dela, que é muito devota do catolicismo. A história se passa durante a Segunda Guerra Mundial, quando a capital italiana estava sendo intensamente bombardeada pelos Aliados, razão pela qual Cesira decide abandonar a cidade e levar sua filha para sua regiaão de origem, Ciociaria, um lugar montanhoso localizado no centro da Itália.


Lá, Cesira chama a atenção de um jovem intelectual chamado Michele (Jean-Paul Belmondo), com quem compartilha a simpatia pelos ideais comunistas. Entretato, Michele é levado como prisioneiro por soldados alemães que esperam usá-lo como guia para se familiarizarem com o terreno montanhoso. Mais tarde, Cesira descobre que Michele foi assassinado pelos alemães.


Durante meses mãe e filha esperam pela chegada das tropas aliadas. Mas a libertação traz uma tragédia não esperada. No caminho de volta para Roma, as duas são estupradas por Goumiers (soldados aliados marroquinos) do exército francês, e a filha acaba sofrendo um colapso mental.

Sophia Loren, no set de filmagens de "La Ciociara".
Um drama profundo. Assim pode-se descrever La Ciociara. É interessante como o diretor, Vittorio de Sicca, consegue compôr com extrema magistreza o perfil psicológico das duas personagens principais. Vale a pena conferir e sensibilizar-se junto com Cesira, no momento em que ela e sua filha recobram a consciência depois de terem sido estupradas. As manifestações das personagens nos prendem o tempo todo. Vale salientar que a cena referida anterirormente ocorre dentro de uma igreja abandonada, em que as duas personagens estavam pousando, logo após uma longa caminhada. Isso sugere várias interpretações no âmbito crítico, as quais eu deixo a vocês, logo que assistirem este filme...

"O Leopardo" (Il Gattopardo) é um premiado filme do diretor italiano Luchino Visconti, baseado no romance homônimo de Giuseppe Tomasi di Lampedusa. Estrelado por Burt Lancaster, Alain Delon e Claudia Cardinale, o filme foi o vencedor da Palma de Ouro do Festival de Cannes, no ano de seu lançamento.
 

O filme recria a atmosfera vivida nos palácios da aristocracia durante o Risorgimento - longo processo de unificação dos Estados autônomos que originaram o Reino da Itália, em 1870. O cenário político italiano é reconstituído com o intuito de interferir em dilemas dos personagens ficcionais. Trata-se de uma adaptação do romance homônimo de Giuseppe Tomasi di Lampedusa (1896-1957), publicado postumamente, que usa a queda da monarquia de Bourbon no Reino das Duas Sicílias e sua anexação ao da Alta Itália, governado pela dinastia Saboia. O personagem principal do filme, Dom Fabrizio Salina (Burt Lancaster) foi inspirado no avô do escritor, príncipe de Lampedusa.


Vale a pena assisti-lo por várias razões. Dentre elas, pela perfeita reconstituição da época, tão perfeita que o filme inicia com uma "Ave Maria" rezada em Latim, explicitando, assim, como se dá a relação entre sociedade, ideais e religião. Outro motivo que faz de "O Leopardo" imperdível é o baile, que a partir da metade do filme torna-se o cenário principal. Muito bem filmado, com várias ambientações e com um diálogo muito bem sincronizado com as cenas....


Obra do cineasta Pier Paolo Pasolini, "Teorema" é uma produção da escola do Cinema Italiano que segue por um viés diferente das demais. Simbólica e simbolista em predominância, a produção cinematográfica deste cineasta apela para a transcendência de significados e exige, de quem assiste a seus filmes, um olhar mais profundo diante da sequencia de cenas e acontecimentos que ele nos traz. Em uma frase, defino "Teorema" como a projeção da imaginação das pessoas. E como a imaginação é um terreno volúvel, assim as produções de Pasolini o são. 

A empregada da casa: manifestações e reflexões do "eu".
O filme consiste em uma série de críticas interligadas, sendo todas elas vistas através de uma família da alta classe italiana, onde um homem, visitante, desconhecido, penetra, sem dar satisfação, assim como também sai da vida e dos acontecimentos sem se importar com eles.
 
O Grito: sequencia final do filme.
Em outras palavras, o filme retrata a história de um indivíduo e a sua influência em uma família burguesa. Curiosamente cada membro da família representa uma instituição e um segmento da sociedade italiana. Através de suas personagens o filme critica a futilidade, o comodismo e a alienação da burguesia. 

Lucia: exotismo e erotismo trabalhados de forma complexa.


O Visitante: perfil e olhar enigmáticos.

A filha caçula da familia: perfil psicológico conturbado.


Atente para o título do livro do Visitante: "Elementos da Construção Civil". Será um mero título ou uma crítica à forma como, neste momento, estava se compondo a sociedade civil italiana?
 

Produção do final da década, conta com a participação de Silvana Mangano, no papel de "Lucia", a matriarca da família, Terence Stamp, no papel do visitante desconhecido e Massimo Girotti, em cena como o personagem Paolo.


Alemanha, 1933. O barão Joachim Von Essenbeck (Albrecht Schoenhals) comunica que está deixando o seu império de usinas de aço nas mãos de um desconhecido. Assim inicia "Os Deuses Malditos" (La Caduta Degli Dei), produção de Luchino Visconti, pertencendo à fase "alemã" de produções deste cineasta. Um drama que conta com a participação de Dirk Bogarde, Ingrid Thulin e Helmut Berger.  A ascensão do nazismo é analisado pela ótica de uma aristocrática família, que se digladia internamente na luta pelo poder, assassinado uns aos outros sem hesitação para alcançar seus objetivos.

Helmut Berger, em cena em uma das primeiras sequencias do filme.

Um dos momentos interessantes do filme é quando Martin Von Essenbeck (Helmut Berger) evoca O Anjo Azul, escandalizando a família, ao cantar e dançar como Marlene Dietrich no papel de Lola-Lola, uma cantora de cabaré, no filme dirigido por Josef von Sternberg em 1930. A sequência acontece logo no início, quando o patriarca da família, o barão Joachim Von Essenbeck (Albrecht Schoenhals) comunica sua saída de cena do comando do império de usinas de aço. "Os Deuses Malditos" faz parte da trilogia alemã de Luchino Visconti, ao lado de "Morte em Veneza" e de "Ludwig, a Paixão de Um Rei".


Sem dúvida, é um dos filmes mais ricos deste post. Considerado por alguns críticos como a "Ópera Antinazista, ele é a saga da família von Essenbeck, reis do aço na Alemanha, e a crônica da violência e da degradação que marcou a ascensão do nazismo. O velho barão Joachim simboliza a velha Germânia, civilizada por Bach, e governada pelo Kaiser. Quando ele morre, todos os métodos possíveis são empregados na disputa pelo poder. 

“Escuta, Martin.
– Escuta você, mãe! Não é Aschenbach quem me dá medo. Não é Frederick. É você, mãe. Você, que sempre foi o meu pesadelo. Você, com sua opressão, com teu desejo de me submeter a todo custo, em todos os sentidos. Com suas estúpidas perucas e batons. Você nunca me quis. Nunca. Sempre preferiu a ele. A ele deu tudo o que me pertence. Minha fábrica, meu dinheiro, minha casa, tijolo a tijolo. Inclusive meu nome! E o teu amor. É a pior. Por isso te odeio! Não pode imaginar as desgraças que te desejo! Te destruirei, mãe”.


O símbolo do nazismo é Martin, um jovem mentalmente desequilibrado, e o único herdeiro da fortuna Essenbeck. Manipulado por todos os lados, ele descobre o mau dentro de si. 


É um filme apaixonado e apaixonante. Fato e ficção, habilmente mesclados, se ordenam aqui num vigoroso e candente documento artístico.
Espero que tenham gostado do post! Um abraço a todos!!!

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