Quando um governante de índole autoritária (por razão de ordem
pessoal ou doutrinária) ocupa espaço no âmago de uma democracia, uma
das coisas que ele mais faz é tentar passar por cima das leis a que deve
obediência, tendo como objetivo primordial a consolidação de um regime
de força que lhe assegure poderes ilimitados. Essa tentativa de burla ao
arcabouço institucional começa, via de regra, como um balão de ensaio,
em dispositivos legais que, embora importantes, não têm influência
direta na qualidade de vida dos cidadãos.
Um exemplo típico disso é a “reforma ortográfica parcial e biônica”
sancionada pelo governo Dilma, em completa desobediência ao tratado
linguístico existente entre as nações de língua portuguesa, que torna
obrigatório o emprego da flexão de gênero para nomear profissão e grau
inerente a diplomas. A lei esdrúxula, decretada pelo Congresso Nacional –
hoje transformado num ”pau mandado” do poder executivo - tem por
objetivo principal oficializar o capricho da atual chefe da Nação (ou
“chefA da Nação, de acordo com essa aberração linguística) que optou, na
contramão das regras gramaticais, por ser chamada de presidentA, num
flagrante desrespeito ao acordo ortográfico firmado nesse mister com
países como Portugal, Angola e outros.
Não se sabe ainda se esse “estupro gramatical” se estenderá aos
postos e graduações das Forças Armadas, onde seus integrantes, exemplo
clássico de obediência a leis e regulamentos, tiveram o bom senso de
zelar pelas convenções linguísticas, mantendo para as mulheres que
ingressam na carreira das armas as denominações originais dos postos e
graduações atribuídas historicamente aos homens de farda.
Confesso que fiquei chocado, quando ouvi, semanas atrás, o senador
Cristovam Buarque, talvez o maior porta-voz da área educacional no
Congresso, pronunciando a palavra presidentA, referindo-se àquela que é
na verdade a presidente da República Federativa do Brasil.
Ninguém melhor do que esse parlamentar, que se parece com
Getúlio Vargas, na aparência física, e com Leonel Brizola, na defesa
intransigente de uma educação de primeira qualidade para todos os
brasileiros, tem consciência plena de que não se pode chamar Dilma de
presidentA pela mesma razão que jamais se cometeu o desatino de chamar
Lula de presidentO. Afinal, se o “e” terminal do vocábulo não estabelece
nenhuma conotação de gênero, algo que ocorre pela anteposição do artigo
definido (“o”, “a”) ou indefinido (“um”, “uma”), por que substituí-lo
para definir o feminino, já que isso nunca feito na definição do
masculino?
* Lino Tavares é jornalista diplomado, colunista na mídia gaúcha e catarinense, integrante da equipe de comentaristas do Portal Terceiro Tempo, da Rede Bandeirantes de Televisão, além de poeta e compositor. O texto acima foi retirado do Jornal "Diário Gaúcho", Pelotas, 20 de julho de 2012.
O velório foi triste, muitas pessoas chorosas e outras que não entendiam o que e pq havia acontecido. A LP deixa saudades...
ResponderExcluirPois é. Pena que nem todo mundo foi noticiado, senão não deixariam a LP ir pro saco....
ResponderExcluirCom certeza!!
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