domingo, 18 de novembro de 2012

Uma Avenida Chamada Niévski: Conhecendo São Petersburgo a partir da Obra de Nikolai Gógol

Здравствуйте! Parece estranho, não? Mas é "Olá!" em russo. Falaremos aqui um pouquinho sobre "Avenida Niévski", um conto do escritor russo Nikolai Gógol, que recentemente recebeu nova tradução de Rubens Figueiredo e foi impresso pela editora Cosacnaify. Este, por sua vez, recebeu uma edição de luxo. O conto veio acompanhado de litografias da Avenida Niévski, datadas entre 1830 e 1836 e, em um encarte separado, "Notas de Petersburgo de 1836", também de Gógol. Tudo isso embrulhado em um papel grande, que imita muito um jornal russo da época. Há de se atentar para a forma como vem disposto o conto no primeiro encarte descrito: o texto "imita" o vai-e-vem das calçadas de uma avenida, o que significa que ele "anda", junto com o leitor. 


Quando iniciamos a ler o conto, já o percebemos isso. A leitura vai até a metade da página, pois a outra metade vem de cabeça para baixo. E isso se dá em todas as páginas. Resultado: começamos a ler o conto na página 1 e terminamos na página 67, na primeira posição. Para lermos da página 68 até o fim do conto, na página 134, teremos de virar de cabeça para baixo o livro, voltando, assim, para a primeira página. Um belo trabalho gráfico da editora, que se dá também com as imagens litográficas impressas na edição.

Comecemos a falar do conto, em si: Avenida Niévski está entre as primeiras produções de Nicolai Gógol (1809-1852). O escritor acha-se com 26 anos e demonstra um olhar modernista "avant la lettre": a novela está repleta de características fartamente encontradas mais tarde na literatura e nas artes do século XX.

Precursor, Gógol tem um ponto de partida assaz simples: logo nas primeiras linhas, faz o elogio da Avenida Niévski, então famosa em Petersburgo (e que será coadjuvante em novelas posteriores do seu compatriota Dostoiévski):

'Não há nada melhor do que a Avenida Niévski, pelo menos em Petersburgo; para essa cidade ela representa tudo. Com o quê não brilha essa rua - beldade de nossa capital?'

O elogio é demasiado aberto, excessivo; para não ser ironia, Gógol teria de ser menos artista, menos sensível aos efeitos de um tom acintoso no elogio como é o começo da narrativa. Mas ele não é menos artista, ao contrário; do início ao desenvolvimento até a conclusão veremos seu domínio da escrita, e, portanto, do seu objetivo.

Avenida Niévski, retratada ao final do Século XIX.

Avenida Niévski, atualmente.

A Avenida Niévski é estonteante, um local de passeio, de encontro entre conhecidos, de exibição de elegância ou beleza; Gógol vai demonstrando sua peculiaridade enquanto dá-nos um retrato da rua em flashes que são recortes do que se passa nela; seus transeuntes, arrolados por ele para nosso olhar, são identificados por detalhes: bigodes, chapeuzinhos, mangas de vestimentas femininas, cinturas, sobrecasacas, um par de olhos, um 'maravilhoso nariz grego' (pág. 19), um pezinho, uma gravata... Recortes que o escritor desfila ante nós à maneira modernista: como escreveu Marshall Berman, a técnica descritiva nessas páginas iniciais tem algo de uma tela surrealista (ou cubista).

Gógol assim faz um panorama da avenida das primeiras horas da manhã até o anoitecer; aqui, então, passa a nos falar de dois conhecidos que vêem duas jovens mulheres passando pela rua. Um, o pintor Piscariov, é uma figura tímida, talentosa, idealista; Gógol trata de pô-lo em contraste com a 'praticidade' e a 'sofisticação' da avenida, o que não pressagia nada de bom para o personagem.

O outro homem é o tenente Pirogov, um tipo bem diverso: vaidoso, metido a conquistador, segue a moça que lhe chamou a atenção e, se nem tudo lhe sai bem, ele não é da espécie de indivíduo cuja natureza possa sofrer uma decepção sentimental.

Este é o enredo de Avenida Niévski: a visão de uma rua, dois homens que olham duas mulheres, e o que lhes acontece ao separarem-se para irem atrás de seus sonhos...
Gógol encerra a história no mesmo tom leve e irônico do começo, só que agora com afirmações inequívocas das suas 'reservas' quanto à avenida:

'Oh, não acredite nesta Avenida Niévski! Sempre que caminho por ela protejo-me melhor com a minha capa e tento não olhar para nada com que me deparo. É tudo um embuste, uma ilusão, nada é aquilo que parece ser! (...)' (pág. 89-91)

A conclusão, portanto, é que a Avenida Niévski é um lugar de ilusões, de irrealidade, de aparências. Mas o que Gógol não nos diz explicitamente, porém nos deixa em dúvida, é - será, afinal, que só os que nada levam a sério, só os que não empenham o coração no que 'vêem', podem atravessá-la incólumes? 

Bom, a resposta só se pode obter lendo o conto. Agora, para "agradar aos olhos", trago, a seguir, uma seleção de imagens. Levando em consideração o fato de a Avenida Niévski situar-se em São Petersburgo, cidade russa que é palco de muitas outras histórias, como "Crime e Castigo", de Dostoiévski, é bom ter-se em mente o lugar em que os acontecimentos se sucedem. Espero que gostem!

A Riqueza da Arquitetura Russa.

A Catedral de Santo Isaac.

Zona Central de São Petersburgo.

Pátio interno do Palácio Principal.

Jardim de Palacete

Piso interno do Museu Hermitage.

O Cavaleiro de Bronze, monumento a Pedro, o Grande. Ao fundo, a catedral.

Praça central.

Parte frontal do Palácio de Inverno.

O Rio Neva, ao entardecer.

O Hermitage, ao longo do Neva.
 Até a próxima!!!

2 comentários:

  1. Adorei a postagem =]Estás de parabéns.. é sempre bom conhecermos autores novos.

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  2. Que bom que gostastes Fyama! De fato, Gógol é um grande autor, e vale a pena lê-lo!!!

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