Olá. É muito recorrente na
crítica contemporânea a postulação de uma possível ruptura entre tradição e
popular. Um dos autores que aborda esta questão é o Antropólogo Néstor Garcia
Canclini, em seu livro “Culturas Híbridas”. Essa quebra tem suas raízes nas
vanguardas do início do Século XX, e, devido à complexidade de pluralidades
existentes na cultura contemporânea, por vezes esta diferença se clarifica e, em
muitos momentos, se enturvece.
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A Linha Tênue: Falco, pseudônimo para Johann (Hans) Hölzel. |
Falco é um destes exemplos em que
pode-se perceber esta tensão. Músico de formação clássica, nasceu em Viena, na Áustria,
berço dos grandes compositores. Contrariando as premissas de sua trajetória
acadêmico-musical, acaba por voltar-se às vertentes sonoras contemporâneas à
sua época, começando inicialmente em uma banda de hard rock e passando,
posteriormente, a um dos precursores do estilo “rap” como conhecemos hoje.
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Falco, caracterizado como Amadeus (Mozart). |
Pseudônimo de Johann (Hans) Hölzel,
Falco se interessou pelos sons e ritmos da música rap, tornando-se um dos
primeiros na Europa a incorporar tal estilo nas músicas pop e rock. Ele é mais
conhecido internacionalmente pela canção "Rock Me Amadeus", de seu
álbum “Falco 3” (1985), que se
tornou um hit mundial em 1986, atingindo primeiro lugar nas paradas de sucesso
em vários países.
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Tensão pós-modernas: De um lado, o clássico; de outro, os movimentos musicais contemporâneos. Cena do Clipe "Rock Me Amadeus" (1985). |
“Rock Me Amadeus” completará, no ano de 2015, 30 anos de seu lançamento.
Inspirada na vida do compositor clássico Wolfgang Amadeus Mozart, gênio da
música que viveu no século XVIII, bem como no filme “Amadeus”, produzido em
1984, procura retratar, através de seu arranjo e letra, um aproximamento da
condição a qual o compositor em sua época era colocado com a condição em que
diversas vertentes da música contemporânea são postas. Em suma, a canção
retrata que, da mesma forma que Mozart era tratado, mesmo sendo um gênio
incompreendido – genialidade colocada em voga após sua morte e até os dias
atuais –, muitos grandes e bons compositores de hoje são marginalizados por
produzirem um repertório que foge aos padrões da dita Música Popular – como o Rap,
o Hip Hop, o Funk, o Rock e o Heavy Metal.
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Cena do Clipe "Rock Me Amadeus" (1985). |
Pelo aspecto cultural, “Rock Me Amadeus” quebra com os padrões de produção
cultural até então realizados. Através de um limes não rigorosamente demarcado, canção e videoclipe mesclam o
clássico e o popular, o antigo e o moderno, procurando de alguma forma deixar
elucidado ao expectador e apreciador que, tanto ontem como hoje, as mesmas
tensões entre clássico e popular se chocam de maneira constante – e, talvez, latente.
A seguir, há o vídeoclipe da canção Rock Me Amadeus, em sua versão
original, remasterizada. Perceba a forma como é conduzido, de início a fim, a
fotografia do clipe. Perceba, também, as inserções de outros elementos do
âmbito da cultura, que estabelecem um diálogo contraditório e uma crítica
reflexiva bem estruturada da condição cultural em que nos encontramos – tanto hoje,
como ontem, como há trinta anos atrás.
Aos quarenta anos, em 1998, em um
trágico acidente automobilístico na República Dominicana, Falco nos deixa. De
novo surge a limes: de um lado, sua
vontade de retomar a carreira musical; de outro lado, o seu legado à contemporaneidade.
Lastimadamente, a fronteira desta vez, está – e assim ficará – bem estabelecida.
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