Trago aqui “Abaporu”, de Tarsila do Amaral. Considerado um ícone
do Modernismo Brasileiro, deu origem ao Movimento Antropofágico, o qual teve
como expoente seu marido Oswald de Andrade. Tal movimento tinha a ideia de trazer
a antropofagia para explicar o processo de formação cultural brasileira, no
sentido de “devorar” o que vem de fora do país e mesclar com elementos
culturais nacionais. Um belíssimo quadro desta pintora, que conta com grande
acervo de obras...
quarta-feira, 27 de junho de 2012
terça-feira, 26 de junho de 2012
Inês de Castro sob o Olhar de Garcia de Resende
Por Elizandro Rodrigues de Rodrigues
Na época do Humanismo,
marcada por uma profunda renovação da cultura portuguesa no que se refere à
poesia, é, indubitavelmente, Garcia de Resende o seu maior destaque. Nota-se, a
partir desse poeta, que começa a se processar uma tentativa de desligamento do
formalismo trovadoresco, até então característica predominante nas
manifestações poéticas. No Cancioneiro Geral – obra de poesia organizada por
esse poeta em 1516 – pode-se ressaltar suas “Trovas à Morte de Inês de Castro”.
A forma narrativa que
Resende usa para contar os acontecimentos ocorridos com Inês de Castro, a
trova, de certa forma é interessante, pois utiliza o sistema de rimas
intercaladas. As rimas utilizadas para a narração das trovas intercalam-se
entre o uso de AB/AB e AB/BA, em praticamente todas as estrofes da trova, as
quais grande maioria iniciam com a construção AB/AB e alteram para a construção
AB/BA, como no exemplo citado a seguir: “Senhoras, s'algum senhor/ vos quiser
bem ou servir,/ quem tomar tal servidor,/ eu lhe quero descobrir/ o galardam do
amor./ Por Sua Mercê saber/ o que deve de fazer/ vej'o que fez esta dama,/ que
de si vos dará fama,/ s'estas trovas quereis ler.”
Pode-se perceber,
também, na Fala de D. Inês, esse tipo de estrutura; mas o que mais caracteriza
a Fala é como o narrador nos mostra a personagem, a visão que nos traz dela.
Inês de Castro, de acordo com Resende, aparece como uma mulher que pede
misericórdia, que se expõe como vítima do acontecido, demonstrando certa
ingenuidade e virtude por parte da personagem. Podemos notar essa clama e esse
tom de misericórdia na estrofe que segue: “Qual será o coração/ tam cru e sem
piadade,/ que lhe nam cause paixam/ úa tam gram crueldade/ e morte tam sem
rezam?/ Triste de mim, inocente,/ que, por ter muito fervente/ lealdade, fé,
amor/ ó príncepe, meu senhor,/ me mataram cruamente!”.
Também podemos ver a
virtude e ingenuidade por parte de Inês nas duas estrofes que seguem: “Eu era
moça, menina,/ per nome Dona Inês/ de Castro, e de tal doutrina/ e vertudes,
qu'era dina/ de meu mal ser ó revés./ Vivia sem me lembrar/ que paixam podia
dar/ nem dá-la ninguém a mim:/ foi-m'o príncepe olhar,/ por seu nojo e minha
fim. (...) Dei-lhe minha liberdade,/ nam senti perda de fama;/ pus nele minha
verdade/ quis fazer sua vontade,/ sendo mui fremosa dama./ Por m'estas obras
pagar/ nunca jamais quis casar;/ polo qual aconselhado/ foi el-rei qu'era forçado,/
polo seu, de me matar”.
Quando
falamos de misericórdia, acredita-se que, por ela estar indagando através da
trova uma forma de explicar a crueldade que sofreu e que causou a sua morte,
ela está implorando e pondo em questão que não pode haver pessoas tão ruins
quanto as que o fizeram. Acredita-se também que, neste verso, apresenta-se o
fato de que esses acontecimentos narrados neste e a partir deste estão situados
num tempo anterior ao da narração, pois Resende nos traz a trova numa tentativa
de transpor Inês para o tempo presente da narrativa, colocando-a como
narradora, a fim de que se considere que ela ainda está viva nas histórias que
eram contadas pelas pessoas que viviam naquela época.
Quanto
à ingenuidade e virtude, considera-se que nessas trovas apresentadas acima
consta o tom de sedução por parte de D. Pedro, quando ela o mira, e então se
apaixona; por certo, quando ela se refere a ‘fim’, subentende-se que ela
pressente algo de negativo quanto a seu futuro. A virtude e a ingenuidade sem
encontram nas estrofes quando Inês menciona que entrega sua liberdade e que se
decide não mais se casar para poder desfrutar de seu amor por D. Pedro,
demonstrando que, para viver esse amor, faria de tudo. Temos, nesta estrofe,
uma visão melancólica e apaixonada da parte de Inês de Castro, que, unida à
forma de narração, às rimas e aos demais apontamentos, constituem as
características da poesia palaciana.
Garcia de Resende, ao
escrever estas trovas, dá segmento a partir da individualidade, da consciência
de si próprio para o reconhecimento dos outros e do meio. Um exemplo explícito
disso é a fala de Dona Inês, onde Resende a coloca como quem estivesse narrando
o ocorrido.
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