quarta-feira, 29 de julho de 2015

Um Convite aos Poemas de Plástico, de Gustavo Rückert

Por Elizandro Rodrigues de Rodrigues

Lê-se a primeira página e passa-se à segunda; lê-se a terceira e quarta e assim por diante; quando vemos, chegamos à metade do livro, acompanhados de muitas instigações, tão atrativa, reflexiva e empolgante a sua leitura o é. Assim pode ser definido Poemas de Plástico, de Gustavo Rückert. Uma surpresa poética, que, ao condicionar a poesia ao status de plasticidade, nos permite refletir o texto e a linguagem como objeto artístico na conjuntura estabelecida pelo panorama cultural contemporâneo. Arriscaria, neste momento, uma alusão a Andy Warhol – de imediato título e capa me remeteram ao artista pop
E quando chamo a atenção para o dinamismo e atratividade contidos no livro falo sério: o magnetismo constante nos versos e estrofes nos cativa, ao ponto de vermos poesia, também, nos espaços não grafados das páginas; o poema, assim, possui propulsão que faz com que extravase a limes dos sentidos, compondo seu significado próprio e estabelecendo um diálogo constante – tanto reflexivo como de alteridade, arriscar-me-ia novamente – com o leitor. 
Num mundo segregado de questões político-sociais e culturais, Poemas de Plástico nos chega promovendo uma reflexão sobre temas que, em razão do cotidiano, deixamos muitas vezes de lado, como o tempo, a religiosidade, a filosofia, a existência, o próprio cotidiano, entre tantos outros. Todos eles, entrelaçados, costurados, separados e/ou justapostos, trabalham harmonicamente em um jogo de sentidos múltiplos que faz com que a fruição habite em nós como uma segunda pele, promovendo, juntamente, retomadas, alusões, menções e referências, como em “Aristóteles, inventor do relógio” e “Poema de nenhuma verdade”.

Plástico é apenas uma palavra
Não pode ser explicado senão por outras palavras
Todas as palavras são, portanto, de plástico.
(Gustavo Rückert, Material)

Aristóteles, no início de sua Poética, postulou categoricamente que “poesia é imitação”; em linha tangencial, na contemporaneidade, Pierre Bourdieu apontou para a reprodução social como foco dominante do viés de condução da formação e produção artístico-cultural de nosso tempo. Rückert, por sua vez, não percorre estes caminhos: seus versos e reversos, dotados de criatividade do cotidiano, compõem uma bela estesia literária e, assim, uma boa pedida de leitura. Se há um significado para a palavra fruição, sem dúvida alguma Poemas de Plástico contribui para o aporte de formação de sua acepção.