quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Filmes de 70 [Parte I]

Olá! Dando continuidade às postagens relativas às produções cinematográficas, trago hoje uma seleção de filmes da década de 1970.


O primeiro deles é O Jardim dos Finzi-Contini (Il Giardino Dei Finzi Contini), produção teuto-italiana de 1970, dirigida pelo renomado cineasta Vittorio de Sica, baseado em romance homônimo de Giorgio Bassani.






Roma, segunda guerra mundial. Num ambiente de muita tensão política, uma rica família de judeus italianos reluta em deixar tudo para trás e fugir da perseguição nazista. A família, a partir de Nicole (Dominique Sanda), é o último símbolo de resistência usado contra as leis antijudaicas do regime fascista até que todos membros de sua família sejam presos. O filme conta com a participação, ainda, de Helmut Berger, interpretando o problemático e sentimental Alberto Finzi-Contini, irmão de Nicole, e Lino Capolicchio, no papel de Giorgio, rapaz judeu que frequenta a mansão e seus jardins, acabando por ter um caso com Nicole. Grande filme, obra prima do cineasta, indicado a 2 Oscars, vencendo na categoria de melhor filme estrangeiro.


O drama de um compositor e suas reflexões sobre a vida e a arte são o tema para Morte em Veneza (Morte a Venezia), filme francoitaliano de 1971, dirigido pelo também renomado cineasta Luchino Visconti. Um drama, com roteiro baseado em livro homônimo de Thomas Mann. Conta com a participação de Dirk Bogarde e Silvana Mangano, dois atores no auge de suas carreiras, à época, no cinema italiano, bem como Björn Andresen, no papel do adolescente Tadzio.




O compositor Gustave Aschenbach viaja à Veneza para repousar após um período de stress artístico e pessoal. Lá ele desenvolve uma atração perturbadora pela beleza efébica de Tadzio, um adolescente púbere em férias com a família, o qual é pertencente à nobreza polonesa. Grandiosa produção, adaptação genial às telas por parte do cineasta, indicada ao Oscar de melhor figurino (1972) e vencedora do Prêmio do 25º aniversário do Festival de Cannes (1971). Sem dúvida, imperdível.


Imagine três casais, reunidos em torno de uma mesa. Ali, tudo pode acontecer. é nesse argumento que se baseia O Discreto Charme da Burguesia (Le Charme Discret de la Bugeoisie), produção franco-ítalo-espanhola de 1972 dirigida pelo cineasta espanhol Luis Buñuel , com roteiro original de Jean-Claude Carrière.





Um grupo de amigos da classe média/alta francesa pretende juntar-se para mais um jantar de convívio, mas tudo lhes corre mal. Os convivas chegam um dia antes do combinado. Para remediar a situação, decidem-se por um restaurante, mas o corpo estendido na sala ao lado tira-lhes o apetite.
Segunda tentativa de reunião - Os convidados chegam mas os anfitriões não aparecem, estes saíram pela janela do quarto e fugiram apressadamente para fazer sexo nos jardins. Os convivas, ao saberem pela empregada que os patrões fugiram pela janela em direção ao jardim, desconfiam tratar-se de uma armadilha da polícia devido ao seu envolvimento no tráfico de drogas e correm porta fora.
Nova tentativa de jantar - Desta vez são as manobras militares dentro de casa a impedi-los de conviver com estilo e requinte.
Participam do filme a atriz Delphine Seyrig e o ator Jean-Pierre Cassel. Imperdível...


O Dia do Chacal (The Day of the Jackal) é um filme franco-britânico de 1973, do gênero suspense, dirigido por Fred Zinnemann, e com roteiro baseado em romance policial homônimo de Frederick Forsyth.
O romance é baseado em uma tentativa de fato de assassinar o presidente francês Charles de Gaulle, que aconteceu em 1963, por obra de Jean Bastien-Thiry. O carro onde estava De Gaulle chegou a ser metralhado. Thiry era um funcionário público francês insatisfeito em perder seu cargo na Argélia, em virtude da independência do país promovida por De Gaulle.
Há uma refilmagem datada de 1997, com o título The Jackal, com Bruce Willis no papel do assassino, e Sidney Poitier como o agente policial.




Ao descolonizar a Argélia, Charles de Gaulle provocou o descontentamento de parte da sociedade francesa e de oficiais de direita do exército francês. Uma organização clandestina conhecida como OAS, formada por antigos militares desertores, contrata um assassino profissional conhecido apenas como Chacal. Chacal tem sua identidade incógnita em virtude de ter trabalhado como assassino para vários serviços secretos (inclusive a CIA e o SIS) no pós-guerra. Ele começa por planejar a morte do famoso presidente francês para o dia 25 de Agosto de 1963 e, implacavelmente, vai eliminando tudo que possa interferir na sua missão. Cabe ao comissário de polícia Loyd tentar capturar Chacal antes que este consuma seu atentado.
Com Edward Fox e Delphine Seyrig no elenco, a produção foi indicada ao Oscar de 1974 na categoria de melhor produção. É a melhor entre as duas adaptações do romance de Forsyth, a mais fiel à história original. 


Trama Macabra (Family Plot) é uma produção americana de 1976, do gênero suspense, dirigida por Alfred Hitchcock. O roteiro foi baseado no livro "The Rainbird Pattern", de Victor Canning. Foi o último filme de Alfred Hitchcock.




A profissional e falsa médium Blanche (Barbara Harris) fica sabendo que uma cliente milionária está oferecendo uma bolada para quem conseguir encontrar seu sobrinho perdido e herdeiro, Edward. Ao colocar seu faro detetivesco em ação, Blanche, com ajuda de seu amante, um chofer de táxi, descobre o túmulo de Edward, que é falso, pois Edward forjou sua própria morte. Ao continuar na pista do herdeiro, o casal acaba se envolvendo numa trama de sequestros, roubo de jóias e assassinato. Um clássico de Hitchcook, misto de suspense, ação, drama e comédia. De fato, imperdível. Conta ainda com a participação de Karen Black, William Devane e Bruce Dern no elenco. Recebeu uma indicação ao Globo de Ouro (1977), como melhor atriz (Barbara Harris). Vale a pena assisti-lo e (re)assisti-lo.

Espero que tenham gostado! (Aguardem a Parte II).... Abraços!!!

terça-feira, 16 de outubro de 2012

15 Filmes Franceses Inesquecíveis

O filme francês tem seu lugar de destaque no mundo do cinema e isso não vem de agora. Pelo contrário, a força dessa indústria cinematográfica começou nos anos 20 com o realismo poético, passando pelos clássicos da nouvelle vague até os dias de hoje. Abaixo, você tem um panorama com quinze títulos marcantes criados na França e que merecem ser vistos ou revistos por qualquer cinéfilo de carteirinha. Boa leitura!
A Bela da Tarde

A mulher como objeto, sadomasoquismo, frigidez, lesbianismo, traição, fantasias eróticas... Se a história de A Bela da Tarde já seria polêmica nos dias atuais, imagine na época em que o filme foi lançado, em 1967? O diretor Luis Buñuel sabia dos riscos e ainda assim aceitou rodar a adaptação do livro de Joseph Kessel, nesta coprodução entre França e Itália. O resultado é um dos filmes mais aclamados de sua época, vencedor do Festival de Veneza e que ainda hoje é um ícone do liberalismo feminino.
A história acompanha Séverine (Catherine Deneuve, no auge da beleza), uma jovem rica e ao mesmo tempo infeliz com o casamento. Frígida com o marido, ela apenas consegue encontrar o prazer em um discreto bordel, onde passa as tardes realizando fantasias sexuais com clientes.
Quase 40 anos depois, o diretor Manoel de Oliveira lançou uma sequência chamada Sempre Bela, onde é possível ver o reencontro de Séverine com Henri. Catherine Deneuve se recusou a retomar o papel, mas Michel Piccoli está de volta. Vale lembrar também que A Bela da Tarde inspirou Alceu Valença a compor a música "La Belle de Jour".
Acossado

Primeiro longa dirigido por Jean-Luc Godard, Acossado (1960) é considerado um dos grandes marcos da nouvelle vague, responsável direto por transformar o nome do cineasta em sinônimo de produção intelectualizada. O filme é uma trágica história de amor. Michel Poiccard rouba um carro em Marselha e acaba assassinando um policial. Em Paris, ele decide se esconder até receber um dinheiro que lhe devem e acaba contando com a ajuda relutante de Patricia Franchisi, uma estudante americana com quem se envolveu.
O lendário Jean-Paul Belmondo tem uma atuação marcante como Michel, enquanto que Jean Seberg conquistou o coração de muito cinéfilo na pele de Patricia. O roteiro foi escrito pelo próprio Godard a partir de uma história criada por François Truffaut. O filme rendeu ao Godard o prêmio de Melhor Diretor no Festival de Berlim. Outras obras do cineasta poderiam compor esta lista, em especial Viver a Vida e Alphaville.
Acossado ganhou uma refilmagem em Hollywood em 1983. Trata-se de A Força do Amor, com Richard Gere.
Z

Nascido na Grécia, Costa-Gavras iniciou sua trajetória no cinema na França, para onde se mudou nos anos 50. Após realizar filmes como Crime no Carro Dormitório e Um Homem a Mais, fez seu trabalho mais marcante com Z (1969). Apesar de ser uma produção franco-argelina, o longa marcou uma reaproximação entre o diretor e sua terra natal, afinal foi inspirado em fatos reais ocorridos na Grécia em 1963.
O filme aborda o assassinato de um político liberal que é encoberto pelo governo, e as consequências do caso. Yves Montand foi o responsável por dar vida ao político, que passa a ser tratado como Z, que em grego antigo significa "ele está vivo". Jean-Louis Trintignant, Irène Papas e Jacques Perrin também tiveram atuações marcantes.
Último Tango em Paris

A ideia de Último Tango em Paris nasceu de uma fantasia erótica do diretor Bernardo Bertolucci, na qual encontrava uma bela desconhecida na rua com quem tinha relações sexuais. É exatamente o que acontece no filme. Ao procurar um apartamento, uma jovem (Maria Schneider) conhece um americano (Marlon Brando) cuja esposa cometeu suicídio recentemente. Logo eles se atiram num relacionamento onde o tesão um pelo outro é o que fala mais alto. E só isso, já que eles nem mesmo sabem o nome um do outro.
Esta coprodução entre França e Itália gerou muita polêmica quando foi lançada, em 1972, graças à exposição de Schneider e as tórridas cenas entre eles, em especial a da manteiga. Criticado pelos moralistas e idolatrado pelos liberais, Último Tango em Paris conquistou o respeito da crítica especializada e ainda levou duas indicações ao Oscar, nas categorias de direção e ator.
Uma curiosidade da produção é que Marlon Brando, que você pode ver na imagem acima, se recusou a decorar os diálogos de seu personagem por considerá-los ruins demais. Ao rodar suas cenas ele simplesmente resolveu improvisar. Apenas mais uma das várias histórias que cercam este genioso mestre da atuação.
Pele de Asno

Quem diria que a intérprete da ousada Séverine, de A Bela da Tarde, seria capaz de, apenas três anos depois, dar vida à angelical princesa de Pele de Asno (1970)? Catherine Deneuve é a estrela deste conto de fadas à francesa, onde uma jovem precisa encontrar meios para impedir o casamento com seu próprio pai. Tudo devido a uma promessa por ele feita à rainha em seu leito de morte, que só se casaria novamente com alguém que fosse mais bela que ela. O problema é que a filha era a única que atendia a esta condição.
Para escapar, a princesa se esconde sob uma pele de asno e, já fora do reino, passa a levar uma vida simples em uma cabana. Com um detalhe extra: o asno em questão tinha um dom mágico que lhe permitia, digamos, defecar moedas de ouro. Dá para imaginar que sua morte não agradou nem um pouco o dono, não?
Leve e com um tom mágico, Pele de Asno logo se tornou um clássico entre os filmes infantis europeus. Foi relançado nos cinemas brasileiros em 2006, em uma cópia nova que ressaltava ainda mais sua bela fotografia.
Ascensor para o Cadafalso

Clássico absoluto do cinema mundial, Ascensor para o Cadafalso (1957) serviu também para revelar o diretor Louis Malle. Quer dizer, ele já havia dirigido o documentário Le Monde du Silence, sobre Jacques Cousteau - e até ganho o Oscar da categoria pelo filme -, mas só foi estrear no cinema de ficção com este filme. E dali seguiu em frente, rodando longas importantes como Zazie no Metrô, Adeus, Meninos e Perdas e Danos.
A história segue as características típicas do cinema noir, em preto e branco e com um crime no centro da trama. No caso, o assassinato do marido de Florence (Jeanne Moreau) pelo amante dela, Julien (Maurice Ronet). O problema é que, após matá-lo e deixar o local do crime, Julien percebe que deixou uma importante pista que pode incriminá-lo. Ele volta para limpar o cenário e acaba preso no elevador, enquanto a amante, ansiosa, aguarda notícias.
Ascensor para o Cadafalso foi um grande sucesso de bilheteria e alçou Jeanne Moreau ao posto de estrela internacional. O filme ficou conhecido também pela trilha sonora, composta pelo mestre do jazz Miles Davis.
Meu Tio

Quando o cinema já tinha praticamente abandonado o humor mudo e burlesco, do estilo de Charles Chaplin eBuster Keaton, o diretor francês Jacques Tati persistia neste gênero. Meu Tio (1958) traz uma das mais famosas aventuras do Sr. Hulot, o personagem interpretado pelo próprio cineasta, e conhecido pelo chapéu, casaco e cachimbo. Este homem de antigamente tem dificuldades em se adaptar ao mundo de novas tecnologias, guardando sempre a preferência pela vida simples.
Entre diversos clássicos franceses marcados por temáticas complexas e sombrias, Meu Tio é uma delícia da despretensão, um filme familiar e leve como dificilmente se faz hoje em dia. Com uma trilha sonora melodiosa, piadas inocentes e um gosto pela construção de cenários absurdos - o prédio onde mora Sr. Hulot é um espetáculo à parte - este filme é uma verdadeira pérola da comédia.
O Joelho de Claire

Um dos grandes nomes do cinema francês, Eric Rohmer não poderia ficar de fora dessa lista. O Joelho de Claire (1970) é uma de suas obras mais marcantes, contando a história de um diplomata prestes a se casar que passa suas férias às margens do lago Annecy. Lá, acaba desenvolvendo uma atração por uma garota local, a Claire do título, tendo um desejo obsessivo em acariciar seu joelho.
O diplomata é vivido pelo talentoso Jean-Claude Brialy, enquanto que Laurence de Monaghan vive Claire. O grande mérito de Rohmer é conseguir transformar a estranha obsessão de seu protagonista em algo compreensível para o espectador. Ele trata seu objeto de desejo com tanta sutileza e carinho, que faz o público também se encantar pelo joelho de sua personagem.
Cléo das 5 às 7

Como o próprio título deixa claro, Cléo das 5 às 7 (1962) retrata duas horas na vida de uma mulher. Cléo é uma cantora francesa que aguarda impacientemente pelo resultado de um exame, que vai dizer se ela tem ou não um câncer no estômago. Ela perambula pelas ruas de Paris e acaba conhecendo um soldado prestes a ir para a guerra na Argélia.
Dirigido por Agnès Varda, o longa conta com uma atuação marcante de Corinne Marchand como a personagem título. Antoine Bourseiller vive o soldado Antoine, enquanto que Jean-Claude Brialy interpreta um enfermeiro. A curiosidade fica por conta da participação especialíssima do "casal 20 da nouvelle vague": Jean-Luc Godard e Anna Karina.
O Homem do Rio

É curioso que uma das aventuras mais famosas do cinema francês se passe justamente no Brasil: em O Homem do Rio (1964), o soldado Adrien (Jean-Paul Belmondo) acaba de voltar para casa e quer muito reencontrar sua noiva Agnès (Françoise Dorléac, irmã de Catherine Deneuve), mas ela é raptada diante dos seus olhos, e enviada ao Brasil pelos sequestradores. Enquanto isso, uma preciosa estátua amazônica da civilização "malteca" (completamente fictícia, claro) desaparece de um museu francês. Diante de todos esses eventos, Adrien não tem outra escolha, e corre para as cidades de Rio de Janeiro, Brasília e para a Amazônia para encontrar sua amada e recuperar a estátua.
O diretor Philippe de Broca sempre foi um apaixonado pelas aventuras cômicas, especialmente com cénarios "exóticos" como o Brasil, o México e a China. Suas histórias nunca foram historicamente precisas, já que o seu interesse era geralmente de colocar grandes estrelas (Belmondo, Philippe Noiret, Jean-Claude Brialy) no papel central de produções populares. De fato, O Homem do Rio foi um sucesso tão grande que o filme inspirouSteven Spielberg a dirigir Os Caçadores da Arca Perdida (1981).
O Círculo Vermelho

Depois de cinco anos preso no sul da França, Corey (Alain Delon) está prestes a ganhar sua liberdade, e ele já prepara, com alguns antigos amigos do crime, o maior roubo do século. Ao descobrir as intenções do detento, o comissário Matteï (Bourvil) prepara uma grande armadilha para todo o grupo. O Círculo Vermelho é um dos maiores clássicos franceses do gênero policial. Ele é dirigido por Jean-Pierre Melville, um diretor popular, e especialista nas tramas repletas de homens perigosos e imorais. Neste filme, aliás, nenhuma mulher é vista na tela durante toda a projeção.
O título original, "O Círculo Vermelho", é uma citação a uma frase de Krishna sobre o destino: "Quando os homens, mesmo que não o saibam, devem se reencontrar, tudo pode ocorrer a cada um deles, e eles podem até seguir caminhos diferentes. Mas no dia previsto, eles serão reunidos no círculo vermelho." Este é um dos papéis mais memoráveis do astro Alain Delon, e um dos únicos em toda a carreira do humorista Bourvil fora da comédia.
Sem Sol

"A primeira imagem que ele comentou foi a de três crianças numa estrada na Islândia, em 1965. Ele disse que, para ele, esta era a imagem da felicidade. Ele disse que um dia colocaria isto no início do filme, seguido de uma longa imagem preta. Se as pessoas não vissem a felicidade, pelo menos elas veriam o preto".
Assim começa Sem Sol (1983), um dos projetos mais criativos do cinema francês. Uma narradora desconhecida lê cartas enviadas por um correspondente, também desconhecido. Ele conta suas viagens pelo mundo, sua relação com as culturas distantes da Ásia e da África, a impressão do tempo que passa, a dificuldade em guardar em uma imagem toda a sensação que os fatos evocam em nós.
O diretor Chris Marker fez seus filmes na mesma época da Nouvelle Vague, mas suas produções intelectuais, engajadas e esteticamente radicais nunca entraram no grupo de Truffaut, Godard e companhia. Suas obras variavam entre gêneros muito diferentes - não por acaso, Sem Sol foi descrito por um grande pensador francês como "o primeiro documentário de ficção científica da história do cinema".
Sob o Sol de Satã

O diretor Maurice Pialat sempre foi uma figura polêmica. Conhecido pela atitude explosiva em público, seus filmes traduziam este mesmo temperamento. Os temas de suas obras eram geralmente espinhosos: a morte, a culpa, o desprezo. Quando o controverso Sob o Sol de Satã conquistou a Palma de Ouro no Festival de Cannes em 1987, o diretor foi vaiado pela grande maioria dos jornalistas presentes, e respondeu, aos gritos: "Se vocês não gostam de mim, eu também não gosto de vocês!".
Sob o Sol de Satã traz a história de Mouchette (Sandrine Bonnaire), jovem de 16 anos que mata seu namorado. Ela não se sente culpada e também não é punida por isso, já que todos acreditam que se trata de um suicídio. Mas ela decide contar a história ao padre Donissan (Gérard Depardieu), dando início a uma relação sombria entre os dois, marcada por chantagem e sedução. Este filme ficou conhecido na França como uma obra maldita, adorada por alguns, detestada por outros, mas extremamente complexa no tratamento da morte e do sexo, e marcada por uma direção afiadíssima de Pialat.
A Grande Escapada

Um dos maiores sucessos populares da história do cinema francês se chama A Grande Escapada (1966), que perdeu recentemente seu lugar no topo para A Riviera Não É Aqui. Alguns dos humoristas mais famosos da época (Louis De Funès, Bourvil) estão presentes nesta trama improvável sobre dois cidadãos franceses comuns que decidem ajudar três soldados ingleses a escaparem da zona de conflito durante a Segunda Guerra Mundial.
Esta comédia é marcadas por diversas paródias dos franceses (vistos como malandros), ingleses (tratados como ignorantes) e alemães (considerados rígidos, sem senso de humor), sem falar em personagens hilários como a bela freira e o vilão atrapalhado. O diretor Gérard Oury tornou-se um dos diretores de comédias mais famosos na França, tendo em seu currículo outras produções de destaque como As Loucas Aventuras do Rabbi Jacob e L'As des As.
A Regra do Jogo

Eleito o quarto melhor filme de todos os tempos na recente eleição da revista Sight & Sound (veja a lista completa), A Regra Do Jogo (1939) não poderia ficar de fora de uma lista das produções francesas inesquecíveis. Dirigido brilhantemente por Jean Renoir, o longa retrata a burguesia francesa que passa o verão em sua casa de campo no final dos anos 30, pouco antes do início da Segunda Guerra Mundial. Após um baile de máscaras, vários relacionamento são afetados, dando início a um jogo de intrigas marcado pelo relativismo moral.
O filme possui atuações marcantes de Marcel Dalio, Nora Gregor, Roland Toutain, Mila Parély e do próprio Renoir, que também trabalha como produtor e roteirista.
Nossa lista destaca apenas um trabalho de cada diretor, na tentativa de valorizar a obra de inúmeros cineastas franceses. E é este o motivo pelo qual não tem outro filme de Jean Renoir na nossa seleção. A Grande Ilusão (1937) também é um clássico inesquecível da sétima arte na França.

Arquitetura Vitoriana

Olá! Outro dia, assistindo ao filme "A Jovem Rainha Vitória" (EUA, 2009 - trailer aqui), me veio a pensar a questão da Era Vitoriana, que foi um período de grande expansão político-econômica na Inglaterra. Neste crescimento, vários setores da cultura expandiram, e junto a arquitetura, que se tornou um estilo de construção muito valorizado, o qual tomou projeções mundiais. Isto me instigou a fazer uma pesquisa de estilos de construções vitorianas, pois este é um modelo que se tornou atemporal. O extrato desta pesquisa trago abaixo... Espero que gostem. Abraço!

A Rainha Vitória, em gravura de 1837.





quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Filmes de 60 [Parte Final]

Olá! Quatro bons filmes são trazidos hoje nesta postagem. Espero que gostem!

O primeiro deles é "Bonequinha de Luxo" (Breakfast at Tiffany's), produção americana de 1961 dirigida por Blake Edwards. Adaptado da obra homônima de Truman Capote, o filme narra a história de Holly Golightly, uma acompanhante de luxo que sonha em casar com um homem rico e tornar-se atriz em Hollywood, motivo pelo qual se mudou para a cidade de Nova Iorque. Golightly casou aos quatorze anos e fugiu de casa na tentativa de esquecer seu passado pobre e miserável, além alcançar seu grande sonho: ser uma famosa atriz. Ao mudar-se para Nova Iorque, Holly passa a ser ajudada financeiramente por Sally Tomato, um mafioso que está preso em Sing-Sing - local de encontro dos dois todas as quintas-feiras.


Holly tem um irmão chamado Fred, talvez seja a pessoa mais querida por ela, uma vez que em todas as histórias de seu passado ele é sempre citado. Golightly se envolve com o escritor Paul e passa a chamá-lo de Fred, por considerar ele um amigo.


É uma singela amizade entre dois vizinhos, porque ao escritor não interessa tudo aquilo que interessa a todos os outros homens que andam em redor de Holly, uma verdadeira boneca que não deixa indiferente aqueles com quem se cruza. Por isso mesmo, pelo desinteresse carnal que ele manifesta, Holly confia-lhe a sua amizade.
Sem dúvida um grande filme. Recebeu cinco indicações ao Oscar de 62 e contribuiu para uma guinada na moda feminina e na indústria cinematográfica mundial.
Chama-se a atenção, também, para sua trilha sonora. Destaque para "Moon River", de Henry Mancini, que permeia todo o filme.


Nosso segundo filme é "Um Homem, Uma Mulher" (Un Homme Et Une Femme), produção francesa de 1966 dirigida por Claude Lelouch. Com Amouk Aimée e Jean-Louis Trintignant no elenco.



O piloto de corridas Jean-Louis Duroc e Anne Gauthier, dois viúvos recentes, encontram-se por acaso quando visitam seus respectivos filhos num colégio interno, e isso se repete todos os finais de semana. Um dia, Anne perde o trem e Jean-Louis oferece-lhe uma carona de volta a Paris e eles acabam tornando-se amigos chegados e, finalmente, apaixonados, mas percebem que as lembranças dos cônjuges falecidos ainda são muito fortes.




O diretor utilizou a cor para localizar os espectadores no tempo: o colorido representa as lembranças e, o preto e branco, o momento presente.
Em 1986, Claude Lelouch filmou uma sequência, Um homem, uma mulher: 20 anos depois, repetindo o par central com Anouk Aimée e Jean-Louis Trintignant, Antoine Sire, assim como o roteirista Pierre Uytterhoeven e o compositor musical Francis Lai.
É importante ressaltar a presença da Bossa-Nova no filme, movimento musical brasileiro que, à época, estava em voga. Nomes como Baden Powell, Vinícius de Moraes e Tom Jobim aparecem em meio aos diálogos dos personagens.



Um filme raro: “Paris Está em Chamas?”, de 1966. Um dos poucos com uma frase interrogativa. Ela foi pronunciada por Adolf Hitler quando determinou que se ateasse fogo em Paris já prestes a ser libertada.


Dirigido pelo francês René Clement, com roteiro de Gore Vidal e Francis Ford Coppola, o filme é na verdade uma produção americana com uma penca de astros famosos em papéis curtos. Aparecem Orson Welles, Kirk Douglas, Alain Delon, Jean-Paul Belmondo, Glenn Ford, Anthony Perkins, Simone Signoret, Yves Montand e até o alemão Gert Frobe, então no auge do sucesso como o Goldfinger, vilão de “007 Contra Goldfinger”.

Baseado no romance reportagem de Larry Collins e Dominique Lapiérre, “Paris Está em Chamas” assume o estilo de documentário e de propósito foi rodado em preto e branco. Até pouco tempo, o filme ainda não havia sido lançado em DVD no Brasil. Recentemente, a Lume Filmes fez sua remasterização, disponibilizando-o novamente no mercado. As cenas foram rodadas em Paris, recriando o combate rua a rua entre soldados nazistas e homens da Resistência Francesa.




O filme é quase inteiramente em preto e branco, presumivelmente devido à inclusão de imagens reais (o filme foi rodado em preto e branco, principalmente porque, apesar de as autoridades francesas permitirem bandeiras com a suástica serem exibidas em edifícios públicos para tiros-de-chave, não permitiram que essas bandeiras fossem exibidas em sua cor original vermelha; como resultado, bandeiras com a suástica verde foram usadas, que fotografou adequadamente em preto e branco, mas teria sido inteiramente a cor errada), mas os créditos finais apresentam tomadas aéreas de Paris em cores. Todo o filme foi filmado em Paris. Uma curiosidade interessante é a de que foram utilizados aproximadamente 15.000 figurantes, bem como a Prefeitura de Paris autorizou que fossem fechadas 20 avenidas para a gravação das cenas do filme.


Por quatro anos e meio, durante a 2ª Guerra Mundial, Paris esteve ocupada. Quando a guerra já estava perdida para a Alemanha e o avanço dos aliados para recuperar a capital francesa era inevitável, partiu uma ordem do próprio Hitler (Billy Frick) para incendiar Paris totalmente, incluindo seus monumentos e museus. Entretanto o próprio comandante alemão em Paris reluta em dar esta ordem, pois considera tal sacrifício inútil. 




Acima, fotos coloridas das cenas finais do filme. Uma grande produção, vencedora de 2 Oscars.



O último filme deste post é "2001, Uma Odisseia no Espaço" (2001: A Space Odyssey), filme norte-americano de 1968 dirigido e produzido por Stanley Kubrick, co-escrito por Kubrick e Arthur C. Clarke. O filme lida com os elementos temáticos da evolução humana, tecnologia, inteligência artificial e vida extraterrestre. É notável por seu realismo científico, efeitos visuais pioneiros, imagens ambíguas que são abertas a ponto de se aproximarem do surrealismo, som no lugar de técnicas narrativas tradicionais e o uso mínimo de diálogo.


A Aurora do Homem: O momento em que ele se descobre capaz de pegar objetos, graças ao polegar.
A nave espacial controlada pelo computador HAL 9000, grande vilão do filme.


O filme é memorável por sua trilha sonora, resultado da associação feita por Kubrick entre o movimento de satélites e os dançarinos de valsas, que o levou a usar "Danúbio Azul", de Johann Strauss II e o famoso poema sinfônico de Richard Strauss, "Also sprach Zarathustra", para mostrar a evolução filosófica do Homem, teorizado no trabalho de Friedrich Nietzsche de mesmo nome.
Apesar de ter sido recebido inicialmente de forma mista, "2001: A Space Odyssey" é atualmente reconhecido pela crítica e pelo público como um dos melhores filmes já feitos. Foi indicado a quatro Oscars, recebendo um por Melhores Efeitos Visuais. Em 1991, ele foi considerado "culturalmente, historicamente ou esteticamente significante" pela Biblioteca do Congresso dos Estados Unidos para ser preservado no National Film Registry.

Espero que tenham gostado da postagem. Abraço!